A pandemia da Covid-19 provocou muitas mudanças na sociedade. Em pouco tempo, as famílias se viram obrigadas a criar novos hábitos, praticar o distanciamento social e muitas também tiveram que lidar com a incerteza e o medo da doença, períodos de internações e a perda de familiares, amigos e conhecidos.
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As psicólogas clínicas do Hospital Regional São Paulo (HRSP), Denise Sasso e Carolina Kist, destacam que independentemente da circunstância, “a morte de um ente querido, certamente é uma das experiências mais marcantes e inesquecíveis na vida de um ser humano. Cada pessoa reagirá de uma maneira, pois a experiência se dá a partir do que ela mesmo é, sobre a natureza do vínculo é e também sobre as circunstâncias da morte. Por isso, é importante ter cuidado para que não ocorram julgamentos nestas situações.”
O fim de 2021 traz à sociedade um fio de esperança. Para muitos, ressaltando a importância da comemoração e de celebrar a vida e a vitória. No entanto, para outros, a época de festividades pode acentuar a dor pela morte de um ente querido. Diante disso, as profissionais recomendam:
1 – A experiência do luto é única para cada pessoa que o vive. Cuidado: não existe comportamento padrão e nem tempo certo para acabar o processo de luto;
2 – A maneira em que ocorreu a morte pode afetar a maneira com que o enlutado viverá seu luto;
3 – O fato da pessoa sorrir ou tentar passar a impressão que ‘está tudo bem’, não quer dizer que ela não esteja sofrendo;
4 – Muitos irão relatar terem sonhado com o morto, terem ouvido a voz, ou terem o visto, além de revoltarem-se contra crenças religiosas e médicas. Essas são experiências consideradas normais nos primeiros meses após a perda. Em caso de dúvida, um profissional adequado terá que ser procurado.
4 – Chorar não faz mal a ninguém, o enlutado deve chorar se assim se sentir à vontade, e não deve ser proibido disso;
5 – Nas datas comemorativas se o enlutado está triste, deixe-o triste, o que ele precisa é que respeitem a sua dor naquele momento, e se sinta acolhido e pronto para ser ouvido caso queira falar algo sobre a pessoa que morreu ou qualquer outra coisa que o remeta a isso;
6 – Estar junto e respeitar os sentimentos da pessoa que está passando pelo processo de luto é fundamental. Importante: muitas vezes o enlutado precisará falar da pessoa que morreu para tentar aliviar a dor que está sentindo, falar remete a lembranças da vida com a pessoa e de certa forma isso poderá acalentar o familiar que está sofrendo;
7 – Ver o sofrimento da pessoa que está passando pelo processo de luto poderá ser angustiante, porém devemos saber sempre: ela precisará passar por esse processo para poder, aos poucos, diminuir a dor da perda, retomar a sua vida e conseguir fazer planos futuros;
8 – Muitas vezes teremos que auxiliar o enlutado de outras maneiras, auxiliando-o a buscar ajuda profissional (psicólogo, psiquiatra, médico…), quando por exemplo, após passado alguns meses da morte, o enlutado não estiver saindo de casa, ficando restrito ao quarto/cama, sem estar se alimentando direito, e com sono em excesso ou falta dele (insônia); quando apresentar perda de peso excessiva; perda de interesse por atividades rotineiras (a longo prazo);
9 – Devemos ter cuidado com o que ‘não’ dizer para a pessoa enlutada, de forma que ela possa passar por esse processo de forma natural:
– “Não chore, ele foi para um lugar melhor”.
– “Seja forte, você precisa pensar na sua família agora”.
– “Você tem que aceitar, foi Deus que quis assim”.
– “Não chora, se não o morto irá sofrer”.
– Não tente comparar uma experiência sua com o da pessoa enlutada, tentando diminuir o sofrimento do outro.
10 – Cada sujeito lida com suas perdas de forma individual, e as crianças não são diferentes. Ser honesto, sem mentiras ou atenuações, contar a verdade sobre a perda, deixando que ela tire duvidas e não fantasie sobre a situação. A criança é capaz de assimilar a perda e se mobilizar com a nova realidade, de modo que ela aprenda a lidar com seu processo de luto de forma natural.