O custo da cesta básica aumentou 48,3% em três anos. O grupo de alimentos essenciais para a vida dos brasileiros passou de R$ 482,40, em fevereiro de 2019, para R$ 715,65, no mesmo mês de 2022. A alta é o dobro da inflação acumulada no período, de 21,5%, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
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O valor se refere à cesta básica de São Paulo, a mais cara do país, de acordo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que analisa os preços em 17 capitais todo mês, mas não tem uma média nacional.
Entre os produtos que mais subiram nos últimos três anos estão aqueles considerados commodities (matérias-primas com cotação internacional), como soja, café, açúcar e carne, que têm os preços mais pressionados.
O óleo de soja aumentou 153%, passando de R$ 3,48 para R$ 8,82. O pacote de 600 gramas de café custava R$ 11,50 em 2019 e agora custa R$ 21,65, 88% a mais. O quiIo da carne bovina foi de R$ 25 para R$ 44,27, uma elevação de 75%.
Para a economista Patrícia Costa, supervisora de pesquisas do Dieese, alta da cesta básica nos últimos três anos é a maior desta magnitude desde o Plano Real. “A inflação atual é perversa, porque está focada nos alimentos básicos e nos bens e serviços, como energia elétrica e gás de cozinha. Produtos como carne, café e pão aumentaram muito além da inflação num momento de pandemia”, afirma Patrícia.
Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto de 7,5% referente à Previdência Social, em fevereiro de 2019, o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometia em média, 45,09% do rendimento para adquirir os produtos da cesta. Em fevereiro de 2022, esse índice atingiu 56,11%.
Isso significa que, nos últimos três anos, o custo dos alimentos não foi acompanhado pela reposição da inflação no salário mínimo. O piso nacional passou de R$ 998, em 2019, para R$ 1.212, neste ano, uma aumento de 21,4%.
A escalada da inflação começou com os impactos da pandemia de coronavírus. Mas os preços continuam pressionados por uma combinação de fatores domésticos e externos, como a guerra entre a Rússia e Ucrânia.
Para tentar conter os aumentos, o Copom, do Banco Central, reajustou a taxa básica de juros, a Selic, para 11,75% ao ano. Foi a nona elevação consecutiva de uma série iniciada em março de 2021. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas de investimento.
Há um problema de oferta, e não de demanda, que começou durante a pandemia em 2020 e que vem se agravando de forma expressiva, sem nenhuma solução do governo para isso. A elevação da taxa Selic, colocada pelo governo como o único tratamento possível da inflação, é ineficaz, porque não está tratando a causa. A medida acaba jogando a economia numa recessão, indicando que o país não terá crescimento, geração de emprego e investimentos.
A alta dos preços tem origem na oferta de produtos, de acordo com a economista, mas pode ser influenciada pela exportação, taxa de câmbio, ausência de políticas internas de manuntenção do preço do alimento no nível razoável e peça falta de crescimento econômico, de renda e de emprego.
A inflação pode ser por aumento esporático, como por exemplo, o preço do tomate fica mais alto dependendo do clima, mas depois recua. Já o aumento generalizado do nível de preços tem várias causas. “Uma delas pode estar do lado da demanda. Ou o problema está na oferta. Mas, quando está na oferta, o tratamento tem que ser diferente. Não dá para ser o mesmo. O aumento da Selic é inócuo. Ele só favorece o mercado financeiro, porque internamente é um desastre, porque o país não cresce.”
Outro componente que pressiona indiretamente o preço dos alimentos é o combustível. No dia 11 de fevereiro, a Petrobras autorizou aumento nas refinarias de 18,7% na gasolina, 24,9% no diesel e 16% no GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), ou gás de cozinha. Com isso, a estimativa para a inflação oficial do ano sobe de 6,2% para 7,5%. Do R7