Em todos os cantos da cidade, com chuva ou sol, os oficiais de justiça cumprem o dever de fazer chegar aos cidadãos determinações do Poder Judiciário, levando em mãos mandados de porta em porta. Hoje, 25 de março, é celebrado nacionalmente o dia da categoria. Para marcar a data, servidores integrantes do quadro do Poder Judiciário catarinense, que conta atualmente com cerca de 900 oficiais de justiça e oficiais da infância na ativa distribuídos nas 111 comarcas catarinenses, falam um pouco sobre suas carreiras. Cada um com inúmeras histórias para contar, experiências que se acumulam e um sentimento em comum: orgulho da função.
Clique aqui e receba notícias de Chapecó e Região, do Brasil e do mundo pelo WhatsApp
Apoio na família
Depois de 18 anos como agente de portaria e comunicação (cargo extinto), nomeada para a comarca de Seara, a servidora Diane Grando Nunes aproveitou a oportunidade oferecida pelo PJSC de cursar o ensino superior com bolsa de estudos e se formou em Direito. A graduação possibilitou disputar um concurso em nível mais elevado e não mais no nível técnico, que pretendia a vida toda. “O cargo de oficial de justiça me escolheu. Sou muito grata e realizada profissionalmente exercendo essa função”, conta. Em dezembro passado ela completou sete anos de serviços prestados ao Oficialato de Justiça da comarca de Chapecó.
No início, Diane precisou da ajuda de um profissional de Psicologia para aprender a deixar no fórum os desabafos que ouvia (e ouve) em cada mandado cumprido. “Aprendi que as pessoas precisam desabafar. Assim, se acalmam e posso fazer meu trabalho. Explico do que se trata. Procuro fazer o que está ao meu alcance para ajudar. A falta de acesso à internet ainda é uma barreira aos jurisdicionados”, divide. Mas a melhor terapia para a rotina tensa, e intensa, de trabalho está em casa. Pois ela sabe que o filho Pedro a espera – de quem Diane estava grávida na época do primeiro concurso disputado no Poder Judiciário catarinense. O jovem nasceu com mielomeningocele (doença popularmente chamada de coluna aberta) e hidrocefalia (acúmulo de líquido dentro do crânio). Formado em Gastronomia, durante o dia ele prepara as massas dos doces, e à noite a família se reúne para enrolar e embalar as delícias. “Ouvimos música, conversamos… e assim passamos as noites”.
Convicção para ingressar no Judiciário
Quando era universitária, a oficial de justiça da comarca de Jaguaruna, Andrezza Bisewski Silva, passava pelo fórum e dizia convicta que um dia trabalharia ali. A meta definida a levou ao cargo de técnica judiciária, mas seu objetivo era trabalhar na rua, em contato direto com a população, que é o que gosta de fazer. “É aí também que estão os maiores desafios; além daqueles inerentes à profissão, a questão emocional é a que mais se destaca. Presenciar e sentir a dor da pessoa pela perda de alguém, pela perda da liberdade ou do patrimônio”. No cargo há oito anos, ela afirma que sua melhor lembrança da profissão foi sua primeira diligência. “Passo com frequência em frente à residência e ainda sinto a alegria do primeiro dia”.
Andrezza compartilha um pouco da profissão nas redes sociais, com seus mais de 11 mil seguidores. O início nas redes foi para se manter no propósito de ter um estilo de vida saudável, mas também responde a questionamentos sobre sua função. “Perguntam muito sobre as atribuições de um oficial de justiça e ficam surpresas quando digo que faço prisões, buscas e apreensões, despejos, e que não sou apenas a ‘moça que entrega papel do fórum’”. Para ela, mostrar sua rotina de trabalho aproxima a população, esclarece e abre espaço para que possam sanar dúvidas. Considera que isso é, efetivamente, servir ao público. Um quadro de seu perfil é o ‘Fala Direito’, onde aborda informações jurídicas relevantes para o público em geral. “Motivar, inspirar, esclarecer e informar. Esse é o meu objetivo”.
Função desafiadora
Rafael Eduardo Bertoncini Soares é recém-chegado ao cargo. Um dos mais novos do TJSC. Assumiu como oficial de justiça na comarca de Joinville em fevereiro deste ano, mas sua trajetória no Judiciário começou em 2008, quando foi nomeado para técnico auxiliar após ser aprovado em concurso. Durante a trajetória, sempre balanceou estudos com trabalho. Cursou a faculdade de Direito e mantém um foco: “Estou muito satisfeito com a aprovação para oficial de justiça. A função é desafiadora, com excelentes expectativas e não há rotina. Porém continuo com o propósito de prestar o próximo concurso para a magistratura”, conta.
Mas enquanto ocupa o posto de oficial, Rafael garante que aprende grandes lições; a interação, segundo ele, é uma das mais relevantes, “a forma de abordar, de chegar nas casas das pessoas, levar uma intimação, um mandado que nem sempre é uma boa notícia, é um exercício diário de preparação e tato. Essa interação que o cargo me ajudou a desenvolver quero levar para a vida”, enfatiza.
Uma atividade respeitada
Carlos Henrique de Sousa era empresário e cursava Direito quando foi incentivado por uma colega a prestar concurso para oficial de justiça. Fez uma escala de estudos e por alguns meses dedicou os três períodos do dia a ver conteúdos para a prova. Deu certo. Ficou em primeiro lugar e há 16 anos atua na comarca de Lages, na Serra catarinense. A fase de adaptação ao novo trabalho foi a mais difícil. Recebeu apoio dos colegas e hoje avalia as mudanças e perspectivas da profissão, como manter as atribuições do cargo, por exemplo. Ele acredita que para atuar nessa área é preciso ter perfil. “Ser oficial de justiça exige uma postura diferenciada e preparação para situações inusitadas. É preciso vestir a camisa”.
Atualmente, o lageano é responsável pela região que compreende o município vizinho de São José do Cerrito. De moto – a companheira inseparável, mais ágil e econômica -, percorre 130 km para chegar ao destino mais distante. Nem na pandemia a dupla teve trégua. Esse, segundo Carlos, foi um período de diversas alterações na rotina. “Mudanças em procedimentos que imaginávamos acontecer em dez anos ocorreram em 40 dias”. Ele comemora as conquistas da categoria. “Hoje, somos grandes, fortes e respeitados. Uma das poucas profissões que vão se manter ao longo dos anos, independente dos avanços tecnológicos. Gosto muito do que faço. Sou realizado”, finaliza o oficial de justiça, especialista em Direito Civil e Processo Civil.
Dedicação total e amor pela profissão
Livino Nogueira da Costa é um dos servidores mais antigos do PJSC em atuação na região do Litoral Norte. O sessentão, como diz, é pura simpatia, dedicado e muito realizado na profissão escolhida. Ingressou na carreira em 15 de outubro de 1980, aos 19 anos, para o que hoje seria o cargo de técnico judiciário auxiliar, e em 1996 fez concurso para oficial de justiça, sua maior paixão. A simpatia e o cuidado estão em tudo o que faz. Natural de Ibirama, o pai do Gabriel Murilo e Gustavo Ramon já atuou em Jaraguá do Sul – de onde saiu por recomendação médica após um princípio de infarto – e encontrou na brisa do litoral uma vida mais saudável, com passeios de bike e caminhadas pela orla da praia. Ele passou por Camboriú, Itajaí e por fim Porto Belo, onde atua desde 2020. Faz amizade por onde passa.
O ibiramense acorda cedo – no início da manhã já está no fórum. Segundo ele, há muito a ser feito e, para cumprir todas as tarefas como gosta, não pode perder tempo. “Acordo cedo para conseguir dar conta de tudo. Amo isso aqui, isso aqui é a minha vida. Eu faria concurso de novo, eu faria. O fato de poder contribuir com alguém, a gente se sente útil em ajudar crianças em situação de risco e mulheres em situação de violência” exemplifica. Solteiro e pai de dois filhos orgulhosos da profissão dele – um cursa Direito e o outro Educação Física -, Livino tem planos de se aposentar em breve, mas nem pensa em ficar parado. Pretende advogar na área tributária ao lado de um dos filhos, com um horário mais livre. “Eu acho que está quase chegando a hora”, finaliza.