Marcio Rossini – Presidente da AMCRED – Associação das Instituições de Microcrédito da Região Sul
Santa Catarina tem economia diversificada e um povo com DNA empreendedor. Isso em parte explica a diferença na forma como o estado enfrenta crises. Enquanto outras economias naufragam, os catarinenses superam momentos de instabilidade sem perdas tão expressivas. Mais que isso: passados os momentos de maior turbulência, os catarinenses estão sempre entre os primeiros a ver a economia local reaquecida.
O espírito empreendedor também está na origem do programa de microcrédito catarinense, que em 2019 completa 20 anos. A iniciativa tem como inspiração as ideias e os projetos implementados pelo vencedor do Nobel da Paz, Muhammad Yunus, o “banqueiro dos pobres”. A partir de 1976, ele foi o responsável por disseminar globalmente a ideia de que a concessão de crédito a pessoas excluídas do sistema financeiro tradicional pode ter um impacto social gigantesco.
Os números catarinenses mostram como essa ideia pode ser realmente transformadora. Em 20 anos foram mais de R$ 3 bilhões emprestados em 900 mil operações de crédito. São milhares de pessoas que conseguiram empreender, mudar de vida, melhorar a realidade de suas famílias e até gerar empregos. Difícil contar ou listar quantos novos negócios surgiram ou prosperaram a partir de financiamentos relativamente pequenos (a maioria na casa dos R$ 3 mil) e que possibilitaram mudar a realidade de pessoas da chamada “base da pirâmide”. Pessoas que precisam apenas de oportunidades para mostrar seu valor e espírito empreendedor. Não por acaso, o segmento apresenta números de inadimplência inferiores à média do mercado.
Apesar de termos iniciativas semelhantes em outros Estados, foi em Santa Catarina que o microcrédito floresceu. Aqui um grupo de voluntários identificou em áreas economicamente deprimidas a oportunidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio do acesso ao crédito. Inicialmente em Blumenau e Lages, o microcrédito ganhou apoio do Governo – à época o governador era Esperidião Amin – e alcançou status de política pública com a fundamental retaguarda do Badesc.
Essa história merece realmente ser comemorada. O modelo do microcrédito catarinense é sustentável, não depende de subsídios de governo e tudo indica que ainda tem muito a colaborar com o desenvolvimento não apenas do nosso estado, mas de outras unidades da federação, como já acontece no Rio Grande do Sul e no Paraná