O sentimento de proteção e conforto que aos nossos filhos devotamos nos levam a cometer alguns equívocos básicos à preparação deles para o futuro. Um desses equívocos é não exigir a colaboração deles nas atividades do lar. Tal colaboração, bem mais que o resultado imediato, gera outros importantíssimos à formação da criança e do adolescente, como ser humano. O primeiro deles é o desenvolvimento do sentimento de solidariedade, entendendo que aquele lar necessita da sua contribuição para minorar a carga dos demais familiares. Quando você cuida do outro, se torna solidário. E solidariedade é o inverso de egoísmo, sentimento tão nefasto no caráter humano. O segundo é constatar o custo e o esforço que aquela casa demanda e, consequentemente, cuidar para não os agravar: se tiver que varrer o chão, cuidará para não o sujar; se tiver que arrumar seu quarto, não deixará suas coisas jogadas; se tiver que lavar louça, não usará um copo novo a cada vez que tomar água. O terceiro é a valorização do trabalho dos outros – verá como é duro manter uma casa organizada e limpa, não reclamará seguidamente da comida posta à mesa e tratará melhor a empregada, quando houver. E o quarto efeito é aprender a cuidar de si, porque é inadmissível que nos dias atuais um adolescente com 16 anos de idade não saiba cozinhar arroz, lavar e passar roupa, limpar o chão e, eventualmente, fazer supermercado. Veja-se que nessa fase muitos adolescentes já estarão saindo de casa para estudar. – Terão lá uma empregada ou a presença da mãe para cuidá-los? – Seria absurdo se isso acontecesse. E como pretenderão tornar-se profissionais da área de ciências humanas, por exemplo, se sequer aprenderam a cuidar de si? Sabe-se que muitos pais enfrentaram dificuldades e privações quando jovens e, agora, buscam propiciar aos filhos condições melhores, isentando-os dos sacrifícios. Mas, assim agindo, estarão lhes fazendo grande mal, não os preparando para o mundo real que inclui direitos e também deveres, que impõe frustrações, contrariedade, tolerância e sacrifícios. Desde a tenra idade é importante que os pais exijam tal colaboração, em tarefas consentâneas à faixa etária e disponibilidade de tempo, sem sacrifício às atividades essenciais do menor (lembra-se que brincar é atividade essencial, especialmente à criança). – Mas e a Lei? – Vide Código Civil Brasileiro: “Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: … VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.” Preparar os filhos para o futuro é ato de amor e um presente de eterna duração! Bom Dia da Criança!
Ermínio Darold, juiz da 1ª Vara da Família, Idoso, Órfãos e Sucessões da comarca de Chapecó