Marcos Bedin – Jornalista, especialista em jornalismo econômico, diretor da MB Comunicação e diretor regional da ACI/Casa do Jornalista
O futuro gestor do município precisa entender extraordinário papel das feiras multissetoriais e das feiras especializadas na centenária trajetória do Município. As feiras multissetoriais buscam representar todos os setores e tentam se constituir em síntese da economia de uma região. Hodiernamente, estão sofrendo uma metamorfose, derivando para feiras especializadas. A raiz da motivação dessa mudança está na dificuldade em planejar, conceber e “vender” uma exposição-feira com tantas facetas, tantas abordagens, com programação tão densa e tão variada e com público tão heterogêneo.
A Efapi (Exposição-feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Chapecó), com mais de meio século de trajetória, é o mais bem acabado exemplo dessa complexidade. Desde sua primeira edição, em 1967, quando o município festejava seu cinquentenário, a feira se transformou em referência para o Brasil e para os países do Mercosul, constituindo-se em um apurado mosaico da economia do grande Oeste catarinense. Como feira multissetorial, a Efapi tem o condão de interagir os setores e subsetores da agropecuária, da indústria e do comércio, reunindo um acervo expositivo que inclui animais, veículos, máquinas, equipamentos, informática, móveis, eletrodomésticos etc., ao lado de shows nacionais que atraem grandes multidões.
Da Efapi emergiram todas as feiras técnicas que tiveram forte impacto na dinamização da economia e na promoção dos negócios em Chapecó, entre elas a Mercoagro, a Mercomóveis, a Logistique, a Metalcom, a Translog, a Metalplast e as feiras pecuárias.
A Mercoagro (Feira Internacional de Negócios, Processamento e Industrialização da Carne) chega a sua 13ª edição (transferida para março de 2021) assinalando uma trajetória de sucesso. É com invulgar orgulho que Chapecó recebe, há mais de duas décadas, a segunda maior feira técnica especializada do mundo, atraindo para uma das regiões mais singulares do território brasileiro, as maiores e mais avançadas empresas fornecedoras da indústria de processamento de carnes.
O montante de negócios efetivamente fechados em todas as edições consagra a Mercoagro como espaço de negócios e de intercâmbio por excelência, colocando frente a frente alguns dos mais importantes elos da cadeia produtiva da indústria alimentícia. Dessa forma, a feira notabilizou-se no Brasil e no exterior como uma das melhores oportunidades de incremento dos negócios.
Centenas de expositores do Brasil e do exterior estarão na Mercoagro 2021, cuja expectativa de negócios – em razão do desempenho das edições anteriores e da expansão qualitativa e quantitativa deste ano – situa-se acima dos 160 milhões de reais. Um público de 25.000 pessoas, constituído de proprietários, dirigentes, engenheiros e técnicos das indústrias de processamento de alimentos, é aguardado para o próximo ano. As empresas expositoras compõem o maior e mais completo conjunto de insumos para o processamento industrial de carnes e de lácteos.
Simultaneamente ao fomento dos negócios, a Mercoagro 2021 atua como importante instrumento de integração e difusão tecnológica em parceria com as universidades e com o SENAI, tendo como principal evento da programação científica o Seminário Internacional de Industrialização da Carne.
Retornando a abordagem inicial da feira-mãe, ao contrário do que análises superficiais possam indicar, a Efapi também é um paradigma de reciclagem. Embora sua última edição tenha sido cancelada, é uma das poucas feiras multissetoriais do País que mantém, desde o início, o sentido de integração e de promoção da vasta região polarizada em Chapecó. Desde sua primeira edição, a Efapi segue uma linha evolutiva e ascendente e consegue, a cada edição, ficar mais representativa e exibir as potencialidades e a cultura.
Temos, portanto, a notável situação em que um evento tradicional e consolidado em mais de 50 anos de sucessivas edições trienais e bienais reinventa-se, gerando novas formas de expressão cultural e econômica e respondendo às novas demandas mercadológicas, mas ao mesmo tempo mantendo sua essência, como um patrimônio de Chapecó e do sul do Brasil.
Se, de um lado, as derivações da Efapi atendem às exigências do mercado, de outro, a manutenção do abrangente formato multissetorial, atende ao apelo popular. Aquelas cerca de 500 mil pessoas que visitam esse misto de festa popular e feira econômica estão avalizando e perpetuando o projeto original, bem como aqueles compradores das feiras técnicas estão viabilizando e justificando a segmentação como importante ferramenta para dinamização da economia. Conclui-se, portanto, que a Efapi embute e harmoniza duas tendências aparentemente antagônicas: tradição e inovação.
As feiras sustentam milhares de empregos e despejam dezenas de milhões de reais na economia local e regional. Em razão delas, Chapecó vem incrementando e ampliando a infraestrutura para acolher a crescente clientela do País e do exterior, especialmente no que se relaciona ao parque de exposições, à rede hoteleira, centro de convenções, bares, restaurantes, transporte aéreo, serviços especializados etc. As feiras tornaram Chapecó em capital do turismo de negócios e merecem uma política pública de apoio.