Profissionais especializados na área, equipe qualificada que atua no centro cirúrgico, equipamentos avançados e estrutura moderna. Esses elementos foram fundamentais para consolidar o município de Chapecó, no oeste catarinense, como referência em procedimentos na área da neurocirurgia. Exemplo disso é a realização recente no Hospital Unimed Chapecó de um novo procedimento de implante de eletrodo cerebral profundo. A técnica foi aplicada pelo médico Dr. Luan Lucena (neurocirurgião especialista em Neurocirurgia Funcional e Radiocirurgia) e acompanhada pelos profissionais Dr. Mateus Henrique de Araujo Santos (neurologista), Dr. Emanuel Malaguez Webber (neurofisiologista), Dr. Marilio José Flach (anestesiologista) e Déborah de Souza (instrumentadora).
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Esse novo procedimento é indicado, principalmente, para pacientes com Doença de Parkinson, distonia (distúrbio neurológico dos movimentos caracterizado por contrações involuntárias dos músculos), tremor essencial (distúrbio neurológico do movimento que, geralmente, afeta as mãos), epilepsia (doença em que há perturbação da atividade das células nervosas no cérebro e causa convulsões) e dor crônica. Segundo Dr. Lucena essa técnica cirúrgica, que envolve a modulação cerebral, também pode ser indicada para doenças comportamentais ou psicocirurgias como depressão, Doença de Gilles de Ia Tourette, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), esquizofrenia, anorexia nervosa, Alzheimer e autismo. Já o implante de estimuladores medulares é frequentemente utilizado para tratar casos clínicos com dor, espasticidade, dor do membro fantasma, dor pós Herpes Zoster e de dor pós-cirurgias da coluna.
O procedimento de implante do eletrodo cerebral profundo inicia a partir do planejamento e da fixação do halo de estereotaxia (aro que fica em volta da cabeça do paciente), que permite determinar um ponto a partir das coordenadas X, Y e Z dentro do crânio. “Na sequência, são realizados dois exames: ressonância e tomografia. Com a fusão dessas duas imagens é possível localizar com exatidão o ponto que será estimulado com o eletrodo. A partir dessas medidas é direcionado o eletrodo na parte profunda do cérebro, que até então era inalcançável pela neurocirurgia, mas possível com a neurocirurgia funcional”, explica Dr. Lucena. Depois da inserção dos eletrodos inicia outra etapa da cirurgia que é a introdução do gerador (parecido com um marca-passo cardíaco), que ficará na região infraclavicular, em cima do tórax. Esse gerador será programado e modulado pelo especialista que acompanha o caso. “Baseado na frequência e na voltagem conseguimos criar cenários de modulação e melhorar os sintomas do paciente”, comenta o médico.
A cirurgia leva em média dez horas. “Durante o procedimento o paciente fica acordado na maior parte do tempo. Vamos nos comunicando com ele para verificar se está na região certa e identificar possível efeito colateral. Depois de inserir o eletrodo ele recebe anestesia geral e a cirurgia é finalizada com o implante do gerador”, destaca. Segundo, Dr. Lucena todos os processos precisam ter uma precisão submilimétrica porque cada núcleo estimulado tem de três a cinco milímetros. “O halo de estereotaxia é o que nos garante a precisão matemática do procedimento e precisa estar muito bem regulado. O fornecedor é responsável por entregar os eletrodos, o gerador, o cabeamento e o material que ficará com o paciente para controle do gerador (ligar, desligar e recarregar). A parte técnica e médica é realizada por um neurocirurgião e acompanhada por neurologista, neurofisiologista (intra-operatório), anestesista e toda a equipe de apoio: instrumentador, neurocirurgião auxiliar e técnico em radiologia”, enfatiza o especialista.
Os cuidados no pós-operatório estão relacionados a não ter nenhum trauma na região e evitar infeção na área operada. “O resto da vida é normal, sem restrições e cuidados adicionais”, argumenta Dr. Lucena. O paciente operado no Hospital Unimed Chapecó tinha sintomas cardinais da Doença de Parkinson (tremor de repouso, bradicinesia, rigidez muscular e instabilidade postural). “Nossa expectativa com a estimulação é que ele consiga liberar os movimentos, uma vez que sua principal queixa era a dificuldade de caminhar e a rigidez, e consiga voltar a uma vida normal”, antecipa o médico.
Para Dr. Lucena, essa nova técnica representa uma luz no fim do túnel porque muitos pacientes não respondem mais à medicação depois de um longo período de tratamento e ficam restritos a uma melhora clínica, consequentemente, tem deterioração da doença. “Pacientes com a Doença de Parkinson ganham uma esperança e uma expectativa de vida muito maior. Com a cirurgia tem-se um ganho de 10 a 20 anos na qualidade de vida. Para pacientes com depressão grave conseguimos mudar a vida da pessoa. Para pacientes com epilepsia, que tem dez crises por dia, é possível reduzir para uma por mês ou menos. Em pessoas com tremores essenciais conseguimos controlar o tremor. Em todos esses casos, são pacientes que deixam de socializar, param de ir em restaurantes ou de visitar a família por vergonha e acabam se isolando pelo receio de julgamento de outras pessoas. Eles têm dificuldade para se alimentar, tomar água e se vestir sozinho. Então, são pequenas melhoras, mas que no fim representam um grande ganho porque eles retomam sua autonomia”, finaliza.