Seja cozido no fogão à lenha, em panela de ferro ou tradicional, o fato é que o feijão é um dos alimentos que não pode faltar na mesa da maioria das famílias. Nutritivo, é também um aliado da saúde, pode ser consumido de diferentes formas e conquista o paladar de muitas pessoas.
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Para a Cooperalfa, a leguminosa possui um significado especial, que se encontra com a história de fundação da cooperativa. “O feijão foi a mola propulsora da Alfa. Quando surgiu a necessidade de constituir uma cooperativa forte e sólida, não imaginávamos que poderíamos chegar ao que somos. Tudo era desafiador e a principal fonte de renda, há cerca de 56 anos, advinha do feijão. Para os produtores, era a mesma realidade”, recorda o presidente da Cooperalfa, Romeo Bet, ao citar que, naquela época, plantava-se o milho que era destinado para a alimentação dos suínos e o que sobrava era comercializado. No meio da lavoura, o que dividia espaço, era o feijão.
Vale mencionar que, antes do surgimento da cooperativa, havia dificuldade de comercialização do feijão e, quando era possível, o preço era indicado pelo comerciante. “É um produto muito bem aceito, afinal, uma boa feijoada é saborosa. Mas, com o passar do tempo, o feijão foi perdendo um pouco de espaço para outras culturas, como a soja e o milho, e a mecanização se tornou uma importante aliada, até mesmo pela dificuldade de mão de obra”, pontua S. Romeo.
Máquinas e padrão de qualidade
Portanto, se no passado, a maioria dos pequenos produtores plantava feijão, hoje, diminuiu o número de interessados em cultivar o grão e os que permanecem, trabalham com grande escala. Como auxílio, as técnicas que envolvem a produção também foram aprimoradas e os processos, que antes eram manuais, aos poucos ganharam o suporte das máquinas. Conforme o presidente, hoje, o plantio, a pulverização e os tratos culturais são mecanizados e o feijão não é mais a principal fonte de renda da cooperativa, que, aos poucos, contemplou outros negócios, como industrialização, mercado e fábrica de ração. “Contudo, as mudanças que surgiram, também contemplaram o feijão, desde o plantio até a colheita e o empacotamento.
Essa modernização ocorreu em todos os sentidos e impactou positivamente a qualidade. Para tanto, a cooperativa adquiriu equipamentos para se adequar à qualidade que o cliente deseja. As pessoas não querem abrir o pacote e ter que escolher e tirar resíduos. Elas querem um produto pronto para colocar diretamente na panela. Do mesmo modo, para permanecermos no mercado, precisamos atender à legislação e os padrões de qualidade”, ressalta.
O cumprimento das normas elevou o reconhecimento do Azulão que conquistou espaços no mercado em praticamente todo o território brasileiro. “É uma marca forte e que se tornou a preferência de muitas pessoas. A evolução contribuiu para melhorar as técnicas no campo e, por consequência, possibilitou que chegássemos a esse patamar de empresa que visa melhorar o padrão de qualidade do produto que vai à mesa do produtor”, declara S. Romeo.
Atualmente, no mercado, a Alfa disponibiliza aos consumidores, as marcas Azulão – variedade Preto; Azulão – variedade Carioca e Feijão Alfa.
Produção
Um fator essencial para o alcance de resultados positivos de produtividade é, sem dúvidas, semear com qualidade. O coordenador agrícola da área de sementes da Alfa, Claudiney Turmina, ressalta que é imprescindível que produtor opte pelo plantio com semente tratada, de preferência no modo industrial. “Ela oferece uma garantia, principalmente para fungicidas e inseticidas, ou seja, é uma espécie de seguro contra pragas”.
Além disso, é muito importante realizar o teste de fertilidade de solo, o qual deve ser repassado aos profissionais, pois a cultura do feijão é considerada muito responsiva ao fósforo e com a análise, será possível indicar a melhor fertilização na semeadura.
Turmina pontua ainda, que toda lavoura deve ser semeada no limpo, livre de plantas daninhas. Após a cultura estar imergida no solo, inicia a etapa dos tratos culturais. Um dos pontos de atenção especial é para o inseto Diabrotica speciosa, conhecido como ‘vaquinha’ ou ainda, cascudinho. “Ele aprecia o feijão e causa muitos danos. Se o produtor observar algum sinal, procure a equipe técnica e também busque fazer os tratamentos normais”, alerta.
Na atividade há muitos anos, Flávio Fonseca da Rosa é um dos produtores de sementes para a Cooperalfa. Ele considera que a cultura apresenta bastante riscos, mas quando há uma boa safra, compensa os investimentos, principalmente pela oportunidade de ter duas colheitas e na sequência, fazer a rotação com a soja. “Os preços sofrem oscilação, mas como são safras rápidas, a tendência é que possamos agregar valor à produção na mesma área cultivada, que é de aproximadamente 100 hectares, com estimativa de ampliar para 170 neste ano”, afirma Flávio que entrega totalmente a produção para a Alfa. “Somos parceiros e acreditamos no trabalho da cooperativa”, reitera.
Na lavoura, a média obtida nas colheitas é de 35 a 40 sacas por hectare.
Na indústria
Quando chega na Cooperalfa, o feijão passa por um rigoroso processo. Cada etapa vai além do cumprimento das exigências legais e visa garantir segurança e o melhor padrão de qualidade aos consumidores.
Só nesses primeiros sete meses do ano, foram embalados 200 mil fardos com 30 kg em cada um. Em torno de 90% do feijão é da variedade preto e há também o Carioca, que diminuiu bastante nos últimos tempos.
O encarregado de recebimento de grãos, Izair Bodanese, que tem mais de 41 anos de dedicação para a Alfa, acompanhou as diferentes fases que envolvem desde o trabalho manual até a inserção de máquinas de última geração. “Muitas foram as mudanças. No início, o produtor colhia à mão, batia em uma trilhadeira pequena e o feijão vinha ensacado para a cooperativa. Aos poucos, surgiram as tecnologias, e hoje, com a colheitadeira, o recebimento de feijão ensacado praticamente desapareceu e permanece somente o sistema à granel”, comenta.
O recebimento do feijão conta com a pesagem e na sequência é coletada uma amostra e feita a classificação. “Geralmente o associado acompanha todo esse processo e são repassadas as informações referentes à impureza e umidade. Após o descargue, dependendo da qualidade, é separado por moega e se estiver com a umidade alta, vai para o processo de secagem e na sequência, polimento”, explica o colaborador. Posteriormente é armazenado e passa por um tratamento para que não sofra ataque de insetos, como o caruncho.
Após, o feijão é destinado para o processo de empacotamento na embalagem personalizada com as marcas Alfa e Azulão, e destinado aos supermercados.
Todas as atividades são desenvolvidas por equipes treinadas. Quanto às máquinas, há um equipamento de pré-limpeza, que tira os resíduos mais expressivos, como vagem, terra, entre outros, e a seguir, o feijão vai para a máquina de polir, onde passa por um processo de adequação ao padrão exigido pelo mercado. “A tecnologia se torna uma importante aliada para que os processos sejam efetivos”, destaca S. Izair.
‘Nosso trabalho é alimento para as pessoas’
Os volumes de feijão que chegam até a Alfa são oriundos de produtores, em sua maioria, associados da cooperativa no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e uma parte no Paraná.
De acordo com o gerente da área de cereais, Luís dos Santos, a capacidade atual de recebimento é superior a 7 mil sacas por dia e a maior parte se concentra durante o período das safras, sendo que a primeira abrange o período de 20 de dezembro até o fim de janeiro e a segunda inicia por volta de 15 de abril e prossegue até 15 de junho. “A Alfa está preparada para atender as demandas dos clientes e oferecer uma condição de mercado ao produtor para que ele possa, de modo eficaz e seguro, entregar sua produção e receber por isso”, enaltece.
Para tanto, é essencial a qualificação de quem atua diretamente no processo de beneficiamento. Na cooperativa, a cada ano é feito um treinamento para classificadores, com um profissional que está relacionado ao Ministério da Agricultura. Essa etapa é muito importante e onde é definido o valor do produto. “Conforme ele chega à mesa de classificação, será definido o tipo e o valor que o produtor irá receber. Por isso, o profissional não pode errar, nem para o lado da cooperativa e nem do produtor. Trata-se de um trabalho com responsabilidade técnica e que não deve interferir nos resultados e sim, identificar os defeitos e retirá-los”, frisa Luis que observa com orgulho o reconhecimento da marca. “É muito gratificante observar esse apreço das pessoas pelo feijão da Alfa. Sempre comentamos com a equipe: nosso trabalho é alimento para as pessoas. É a nossa missão e compromisso. Por isso, temos esse cuidado especial e também somos clientes, exatamente porque sabemos como são feitos os processos que garantem a qualidade de cada grão que chega à cooperativa e vai para a mesa das famílias”, enfatiza.
‘Não abrimos mão do feijão da Alfa’
O casal Maria Luíza e Lírio Dalpisol, junto ao filho Fernando, tem o hábito de aos sábados à tarde, fazer o rancho no Superalfa, em Chapecó/SC. Entre um produto e outro que vai para o carrinho, um item é presença confirmada: o feijão. “Consumimos há mais de 20 anos e não abrimos mão dessa marca, porque é um produto limpo, que dá um caldo muito bom”, comenta a empresária.
Segundo Maria Luíza, seja com arroz, macarrão ou no formato de sopa, o feijão é apreciado pela família e está na mesa, pelo menos uma vez por semana. “Todo mundo gosta do feijãozinho e sempre acompanha bem as refeições. Quando a minha filha vem de Curitiba também leva, pois é diferenciado. Na hora que tiramos do pacote, é prático e facilita bastante para cozinhar”, afirma ao salientar que é importante escolher bem para ter sucesso na hora de cozinhar. “Temos confiança no trabalho da cooperativa e sentimos segurança em comprar o feijão”.
Para quem ainda não conhece o produto que é industrializado pela Alfa, dona Maria Luíza deixa um recado: “Eu diria para que comprem, pois não vão se arrepender, eu garanto!”.
Mercado financeiro
O mercado de feijão geralmente é estimulado pelo preço. Assim, quando o preço é considerado favorável, há um plantio maior e por sua vez, uma oferta mais significativa, o que torna o preço ao consumidor, mais baixo. Do contrário, se o preço está muito baixo, na hora da colheita haverá pouca oferta e a tendência é que o preço, automaticamente, aumente nas prateleiras. A análise é do assistente comercial da Cooperalfa, Denilso Zilli, que comenta o cenário da cultura e pontua que, se forem considerarmos os indicadores de recebimento de grãos na cooperativa, o feijão ocupa o quarto lugar em volume. “De soja, o quantitativo é de 16 milhões/ ano; trigo, 13 milhões; milho, 12 milhões/ ano; e o feijão, fica em 200 a 240 mil sacas/ ano”.
Outro ponto é que há duas safras, sendo que a segunda, atualmente, é que apresenta maior volume. “Por outro lado, o feijão de primeira safra registra uma colheita com melhor qualidade em razão do período que costuma registrar pouca chuva. Já na segunda safra é necessário ampliar o cuidado devido à proximidade do inverno, menos tempo de sol e mais umidade”, explica Denilso.
Quando o assunto é preço, se for feito um comparativo com outras culturas, o feijão apresenta mais valorização. “No ano passado, o preço do feijão preto chegou a ultrapassar R$ 300 e houve um plantio maior. O carioca também estava mais valorizado e após chegar ao pico, teve queda, o que torna, hoje, o feijão preto mais valorizado, com a média de preço em R$ 280 a saca, e o carioca em R$ 250 a saca, para o produtor”, relata. (Atualização em 21/11/2023)
O assistente comercial também assinala que em 2022 foram enfrentados problemas climáticos, período em que a produtividade e a produção tiveram uma leve diminuição e o feijão preto se manteve num patamar um pouco mais elevado que o feijão carioca. “Para a próxima safra, embora tivemos uma área plantada um pouco maior (Brasil) em relação ao mesmo período do ano passado, o clima não está sendo favorável para a cultura, o que pode gerar uma diminuição na oferta e, por consequência, os preços tendem a subir”, pondera Denilso ao mencionar que o feijão é um item da cesta básica e por isso é mais desafiador, tanto para a cooperativa, como para órgãos governamentais, implementar uma política para incentivar o cultivo da leguminosa.
No entanto, trata-se de uma cultura que, entre 90 ou 100 dias, é possível plantar e colher, oportunizando, logo após, o investimento em outras culturas.