Para superar a crise de saúde pública que assola o país e o mundo, é natural que a sociedade se fie nas recomendações dos “especialistas”. São nossos experts que, por dedicado estudo e ampla prática, adquiriram vasto conhecimento sobre questões específicas. E ainda que a pandemia seja uma novidade em muitos sentidos, a experiência desses técnicos em casos análogos é de grande valia. Isso tudo é ponto pacífico (mas não ponto final).
Em contraste aos limites de análise e atuação de profissionais especializados, problemas complexos (como o combate à COVID-19) tem natureza multidisciplinar, e como o próprio nome insinua, às vezes falta ao “especialista” uma visão geral do problema. O enfrentamento de uma pandemia, especialmente com a implementação de medidas rigorosas de isolamento social, extrapola o campo da ciência médica. Há implicações em várias outras áreas, como a psicologia, a sociologia, a economia e a gestão pública.
Mas nem mesmo o noticiário saturado e monotemático da grande imprensa cumpre seu papel de enriquecer o debate público com pluralidade de opiniões embasadas. A discussão fica praticamente limitada a uma especialidade, a infectologia, e a uma abordagem: o isolamento social intensivo para (quase) todas as pessoas, infectadas ou não, pertencentes a grupos de risco ou não – o Boletim de hoje destaca a entrevista da CNN Brasil com o virologista Antony Wang, que faz um contraponto técnico ao viés alarmista de segmentos da comunidade médica: https://bit.ly/AntonyWong
É até compreensível que a maioria dos profissionais da medicina defendam políticas draconianas de quarentena. Afinal, o impulso natural de quem salva vidas na linha de frente é tentar frear o ritmo de contágio da nova doença “custe o que custar”. Mas e se, no médio prazo, o custo (em vidas humanas) dessa modalidade de quarentena se mostrar maior que seu benefício? Trocando em miúdos: e se a recessão econômica for mais mortal que a pandemia? Essa ponderação não cabe aos nossos dedicados doutores, mas a outros “especialistas” que estão sem o devido protagonismo na arena pública:
Onde estão nossos psicólogos e psiquiatras alertando para os riscos psíquicos (stress, depressão, ansiedade) de uma quarentena prolongada?
Cadê os sociólogos para relacionar o sofrimento psicológico e a pauperização em massa com o risco de uma ebulição social?
Por onde andam os economistas para calcular e expor os números da provável quebradeira (desemprego, endividamento, falências)?
E os estatísticos capazes de projetar o impacto da queda de renda e da qualidade de vida nos números de mortalidade do país? [estima-se que, só nos países da OCDE, a crise financeira de 2008-2010 causou 260mil mortes por câncer– por ora, a COVID-19 contabiliza 36.862 vítimas fatais no mundo]
Finalmente, mas não menos importante, faz falta a opinião de técnicos em gestão pública. Quanto dinheiro será alocado pra cobrir o rombo da quarentena e qual a origem desses recursos no orçamento? – a fonte pagadora é sempre a mesma: o bolso do contribuinte. E por falar em impostos, já divulgaram a estimativa de queda na arrecadação tributária? Com menos recursos, o sistema público de saúde perderá em qualidade e alcance, aumentando o risco de vida para a população mais vulnerável do país.
Só será possível evitar erros irreversíveis no combate à COVID-19 se mais especialistas (de múltiplas áreas) forem convidados à mesa e participarem do debate público. De outra forma, assistiremos ao discurso excessivamente cauteloso de setores da comunidade médica ser encampado por certas autoridades por puro OPORTUNISMO POLÍTICO. Afinal, é muito fácil bancar o governante responsável, pedir dinheiro pra União, rolar a dívida do seu Estado e assistir de camarote a recessão econômica prejudicar seu adversário político em 2020 e 2022. Essa politicagem rasteira já seria muito ruim, mas pior ainda é saber que a recessão pode matar bem mais que a pandemia. (Fonte CNN Brasil).
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