
Oportunidades e riscos para SC em meio à guerra tarifária
*Mario Cezar de Aguiar, Presidente da FIESC
Mario Cezar de Aguiar é engenheiro civil e empresário dos setores da construção civil e do plástico. Preside a Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), os conselhos regionais do SESI e do SENAI e o Conselho Estratégico para Infraestrutura de Transporte e Logística Catarinense. É vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), membro dos Conselhos Nacionais do SESI e do SENAI, além de presidir o Conselho Temático da Indústria de Defesa e Segurança da CNI (Condefesa). É conselheiro da Agência Espacial Brasileira, além de compor o Conselho do Sebrae/SC. Na FIESC, antes de ocupar a presidência, foi diretor, 1o secretário, 1o vice-presidente e presidente da Câmara de Transporte e Logística. Formou-se em engenharia civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e é especialista em construção civil pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), em marketing pela Universidade da Região de Joinville (Univille) e em gestão empresarial pela Pensylvania State University. Também fez a formação para desenvolvimento de conselheiros FIEMG/IEL.
A guerra tarifária deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos gera notícias surpreendentes e difíceis de se compreender todos os dias. Mas entre anúncios estridentes e retrocessos; disparos contra aliados históricos e o debate global sobre a melhor maneira de reagir a tudo isso, duas coisas ficam mais claras: o alvo central de Donald Trump é realmente a China e o objetivo é reindustrializar os Estados Unidos.
A China transformou-se na “fábrica do mundo” ao combinar salários baixos com uma política industrial e tecnológica agressiva e um câmbio favorável. Ela colocou a industrialização como principal projeto de desenvolvimento. Mesmo que muitas de suas práticas sejam questionáveis, o resultado foi um nível de competitividade global tão intenso que as tarifas impostas por Trump em seu primeiro mandato pouco abalaram sua força produtiva. Os chineses redobraram esforços e elevaram significativamente o desenvolvimento tecnológico em suas fábricas, altamente robotizadas. O contexto não mudou os planos do gigante asiático.
O discurso e os movimentos de Trump em seu segundo mandato, mesmo que controversos, evidenciam que o foco é a industrialização como fator estratégico para uma economia sustentável e competitiva. O mundo se deu conta disso durante a pandemia e é o que parece explicar a guerra tarifária ampla. É uma abordagem vista como antiquada por muitos, mas que pode fazer sentido quando se observa que apenas a China respondeu com retaliações, enquanto os demais parceiros comerciais preferem renegociar e buscar melhoria nas condições de reciprocidade nas tarifas.
O recuo parcial de Trump, anunciado dia 9, não é motivo para um grande alívio. Guerras comerciais são jogos de resultado negativo, em que cada lado procura maximizar o dano ao outro e todos perdem. Um embate entre as duas maiores potências repercute negativamente em toda a economia global.
Para a indústria catarinense, esse tabuleiro, além de trazer imensa insegurança e incerteza, oferece oportunidades e riscos. No cenário anunciado dia 2 de abril, exportadores que concorrem com produtos asiáticos — especialmente chineses — poderiam ampliar sua participação no mercado americano, já que as tarifas aplicadas ao Brasil seriam bem inferiores às impostas à Ásia. Setores como madeireiro, cerâmico e metalmecânico, pilares das exportações de Santa Catarina, poderiam sair ganhando. Carnes de aves e suínos catarinenses destinadas à China também ganham fôlego diante das pesadas tarifas de 125% que Pequim aplicará a importações desses produtos norte-americanos. Mas as mudanças repentinas, dias após cada anúncio, impedem projeções confiáveis. A decisão de 9 de abril, de dar uma “pausa” nas tarifas lançadas contra a maioria dos países e dobrar a aposta contra a China (tarifa de 125%, subindo para 145% no dia 10), reduz o nível de ganho de competitividade brasileiro e catarinense previsto no cenário anterior.
A única certeza que existe é a de que novas mudanças virão. E, independentemente de quais serão, haverá oportunidades. Aproveitá-las, contudo, exigirá sangue frio. Além disso, a equação é complexa e precisa considerar, entre muitas outras variáveis, aspectos como aumentos dos preços, volatilidade no câmbio e o acirramento da competição, com uma provável invasão de produtos chineses em mercados de todo o planeta. O excesso de capacidade produtiva — notadamente na China, mas também nos EUA e em outros países — tende a forçar a busca por novos mercados. Essa dinâmica já afetou as importações brasileiras no ciclo de tarifas do primeiro mandato de Trump e deve se intensificar agora, pois as barreiras são mais altas e a China continua investindo pesadamente em produtividade. Os setores que podem sentir mais esse aperto vão de automóveis a têxteis, passando por eletrodomésticos, cerâmicos e produtos químicos.
Nesta conjuntura, é fundamental que o governo brasileiro atue com alta capacidade técnica e diplomática para defender os interesses do Brasil em cada relação comercial, ao mesmo tempo em que as empresas precisam reforçar o diálogo com seus clientes. Não temos força para ditar regras aos EUA ou à China, mas precisamos estar atentos para garantir nosso desenvolvimento, já que muitos interesses estão em disputa. A guerra comercial é fruto do reconhecimento, lá fora, de que não há crescimento sustentável sem indústria. Colocar a industrialização brasileira no centro das negociações e da estratégia do País é, como ensina a história das nações vencedoras, a chave para transformar qualquer cenário em oportunidade.
Produção e edição: ADI/SC – Jornalista Celina Sales
com colaboração de Cláudia Carpes
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