Os laudos psicológicos dos três jovens que mataram a jovem Ariane Bárbara Laureano, de 18 anos, revelam que eles não possuem insanidade mental. Ou seja, eles têm noção da realidade. No entanto, os mesmos laudos contam o histórico dos acusados e apontam características de desvios psicológicos.
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Três jovens e uma adolescente planejaram e mataram Ariane dentro de um carro na capital goiana e jogaram o corpo em um terreno baldio da cidade, no dia 24 de agosto de 2021. Eles a atraíram por meio de um convite para passear pela cidade e lanchar.
Segundo a polícia e o Ministério Público, o objetivo do homicídio era provar se um deles era psicopata e se sentiria remorso ou não após o crime.
De fato, todos os três laudos dos jovens indicam transtorno de personalidade antissocial, distúrbio mental caracterizado pelo desprezo por outras pessoas, também chamado de sociopatia e psicopatia. O laudo da adolescente é sigiloso.
Os laudos foram feitos pela junta médica oficial do Poder Judiciário. O objetivo é um diagnóstico psiquiátrico para esclarecer o estado de saúde mental dos réus no momento do crime. Foram realizados diversos testes psicológicos, exames clínicos e entrevistas com os acusados e seus pais.
Freya
Enzo Jacomani, de 19 anos, mais conhecida pelo nome feminino Freya, é filha única e uma jovem trans. Ela contou em entrevista com psicólogos que teve que lidar com uma forte depressão da mãe quando criança, ao ponto de precisar vigiar para que ela não se matasse.
Freya relatou que vivia em seu próprio mundo quando criança, obcecada por desenhos animados. Na pandemia, começou a virar influencer digital, ganhando seguidores nas redes sociais. Relatou que foi vítima de abuso sexual na infância e sofria bullying por ser “gordinha e afeminada”. Foi diagnosticada com transtorno de personalidade borderline antes do crime. Por isso, fazia uso de medicamentos controlados. Usava cocaína, LSD, maconha e álcool com os outros acusados.
Durante a entrevista, ela chega a se definir como “impulsiva, inteligente, que consegue enganar facilmente os outros”. Segundo a investigação, foi Freya quem sufocou Ariane até desmaiar, no momento do crime.
Para a junta médica, Freya faz interpretações equivocadas da realidade e tem a tendência de se refugiar na fantasia. Além disso, ela teria a característica de chorar e sorrir facilmente. “Sentimentos surgem e passam rapidamente”, definiu trecho do relatório.
A junta médica avalia que isso demonstra uma pessoas “ingenuamente infantis em seu desejo de expor seus sentimentos a pessoas que mal conhecem”. Ela também teria “impulsos intensos carregados de raiva e agressão” e “tendência a não assumir responsabilidade pelos seus atos, deixando que outras pessoas o façam por ele”.
Raíssa
Raíssa Nunes Borges, de 19 anos, perdeu o pai quando tinha nove anos de idade. Ela tinha uma boa relação com a mãe, para quem inclusive se abria. No entanto, tinha um relacionamento difícil com o irmão, que disse já ter desejado a morte.
Sempre foi considerada tímida. Diz se lembrar que, quando criança, quebrou um copo em um momento de raiva. Até a época do crime tinha um relacionamento amoroso com a adolescente que participou do assassinato. Antes do crime, chegou a ir na psicóloga por ter crises de ansiedade, mas foi temporário.
Raíssa reafirma na entrevista que foi a primeira a esfaquear a vítima Ariane e que se arrepende. Embora tenha dito que foi levada a cometer o crime pela namorada adolescente (que também participou do homicídio), assume a responsabilidade de ter ido até o fim.
No laudo da junta médica, Raíssa é apontada como tendo “afeto um tanto frio, com algumas tentativas de demonstrar emoção em determinados momentos da entrevista”. Além disso, a jovem teria “preocupação excessiva com aspectos insignificantes das situações”. Isso demonstraria fuga da realidade e dos problemas centrais.
Os exames demonstraram que ela tem “falta de controle racional sobre as emoções com possibilidade de descargas emocionais explosivas e violentas”. Também foi apontada “percepção inadequada de pessoas e interações sociais” e “tendência a ser submissa e passiva nas relações interpessoais”.
Jeferson
Jeferson Cavalcante, de 23 anos, sempre morou com a família em Goiânia. Ele teve duas crises de depressão fortes, em 2017 e 2021. Em ambas passou a tomar medicamentos. A primeira coincidiu com um fim de um relacionamento e início da faculdade de Administração.
As crises de depressão e o comportamento desobediente a partir de certa idade sempre demandaram atenção a mais dos pais. Ele tem uma irmã. Não conseguia ficar muito tempo em trabalhos e faculdades. Passava a noite jogando jogos on-line sozinho no computador.
O jovem de 23 anos conhecia as outras acusadas a pouco tempo. Ele dirigia o carro no momento do homicídio, que aconteceu no banco de trás. Antes disso, forrou o porta-malas com um plástico. Também foi responsável por “dar play” na música escolhida para o momento do assassinato.
Para a junta médica, Jeferson tem baixa autoestima, com “tendência a se ignorar por se comparar desfavoravelmente em relação ao outro”. Além disso, “experimenta provavelmente uma angústia implícita considerável relacionada à ansiedade, irritação e sentimentos disfóricos”, segundo o laudo.
Também foi apontado no resultado dos exames que ele pode agir de maneira inadequada ao se defrontar com circunstâncias estressantes, pois “poderá ficar rapidamente sobrecarregado”. Do Metrópoles